sexta-feira, 18 de junho de 2010

energia

e a vida simples, porém intensa, segue seu rumo em PL. as ondas continuam marcando presença e ultimamente, com muita energia! por aqui, a ondulação tem entrado com tanto tamanho que o fundo de areia não dá conta de garantir um surf! o mar parece dizer: “leave-me alone, for your own safety!”.

poucos dias atrás, quando mais um intenso swell bateu por aqui, me acomodei na beira do mar apreciando o final de tarde, de olho nas linhas de ondas que surgiam lá de longe, levantando um espumeiro de responsabilidade na laje aqui da frente, para logo depois, explodir com força na zona de impacto....baaaam!

a cada onda,uma puta energia era dispendida! e lá estava eu, no banquinho do mirante que eu mesmo ajeitei...só curtindo!

olhei para um lado, para outro... nenhuma alma sequer caminhando na beira da praia. por um instante, naquela tarde de muitas nuvens cinzentas acumuladas no pé da serra, uma brisa fraca mas constante de sudeste, dava um pouco mais de vida à rasteira vegetação costeira. um grupo de gaivotas agrupadas na beira da água, ali pelos lados santa mônica*, se esbaldavam em seu jantar de gala! os atobás, só nos rasantes atrás da arrebentação....

continuei por ali, mais um tempo, só viajando nas idéias....como aquilo seria possível?! só eu por ali! uma paz enorme, um cenário solitário, sem mais ninguém em volta! como era bom estar ali! que privilégio! que lugar, que instante....que vida! o que as outras pessoas estariam fazendo de tão importante que não estavam ali, apreciando a natureza, apreciando o mar, vivendo o planeta?

voltei a encarar o mar! uma daquelas séries de ondas para os lados de gaivotas, pareciam estar abrindo.... pareciam! eu sabia que o ângulo de visão não favorecia, mas aquela cena ficou registrada na mente, e funcionou como um “input” na alma: vou lá pra dentro!

em ato único, levantei, virei as costas para o mar e saí em disparada pra casa! é bem possível que tenha soltado algumas palavras ao vento...pensando alto mesmo!

rapidinho estava de volta á praia, mas dessa vez com a prancha em baixo do braço. do sol, havia apenas um clarão que rapidamente era abafado pelas nuvens que se acumulavam ao pé da serra. no horizonte, era possível perceber uma faixa de 4 dedos do azul púrpuro anunciando para breve a noite!

esticava um poucos os braços, as pernas, quando mais uma daquelas séries bombou na minha frente! acho que mais uma vez soltei ao vento: -“eita caralha! tá grande essa coisa!”

continuei....chequei as quilhas, a cordinha do pé, puxei a cordinha da roupa e botei o pé na água! gelaaaada! Impossível negar que, naquela hora bateu o arrependimento!

mas sei lá eu por que, continuei! aquele inútil cuidado para não molhar a parte abaixo da cintura...mais uns xingamentos pra cá, outros pra lá, quando finalmente veio aquela onda que forçou o peixinho! já era! aquela congelada básica! a solução é sair do peixinho na remada forte! uma rápida sequencia de sessenta e três dúzias de remadas bastam para completar o “warm up”!

tentei calcular a entrada de modo a atingir a zona de impacto durante o intervalo da série! mas por razões que ainda desconheço, essas contas só funcionam quando estou observando o mar pelo lado de fora! uma vez lá dentro, pode esquecer irmão! é onda atrás de onda, espuma atrás de espuma...e nada do “slot de oportunidade” para acessar o outside!

depois de algumas remadas, cheguei no ponto em que geralmente, começamos a remar “pra trás”! a poucos metros da zona de impacto, o pouco que você conseguiu avançar durante o intervalo das espumas, você acaba perdendo para a espuma subseqüente! e nessas horas é que a energia do caboclo vai para as cucuias!

mas depois de muitos anos por aqui, tomar vááárias na cabeça e passar horas e horas observando o mar em dias grande, acabamos por acumular um certo “know how” do pico! a idéia é simples! antigo princípio de sobrevivência: se não pode com ela, junte-se a ela!! com o mar, idem!

comecei a remar na diagonal, a 45 graus com a linha de praia, sentido norte, a procura da corrente de retorno! a cor da espuma é uma boa dica de por onde pode estar a corrente: muita areia na espuma é bom sinal! uma espiada para o outside, a procura de uma área de água mexida e mais escura, também é uma boa dica de direção! depois de uns minutos de remada, e já bem aquecido pelo esforço dispendido, consegui me colocar lá atrás!

uma vez por lá, um tempo para dar aquela respirada e curtir o visual! o horizonte estava mais e mais púrpuro! o vento parecia ter aumentado um pouco e a gangorra das ondas estava com mais power do que o previsto! lá atrás, o espumeiro “derrotado” parecia irado! a cada série que passava, depois do som da porrada, do lip socando o raso fundo (paradoxal, não?!) de areia, subia o espumeiro que mais parecia um contínuo caldeirão fervendo – tamanho era a turbulência gerada pelas porradas!

quanta energia! fiquei por ali, sem remar para nenhuma uma onda, apenas curtindo o sobe e desce das ondas! todas elas, sem exceção, encerravam sua viagem ao encontrar o fundo de areia a poucos metros atrás de mim! todas “fechadeiras”! baaaaaaam!

mais uma vez, os pensamentos voltaram a minha mente! era para isso que eu estava ali! para compartilhar, ou melhor, para absorver um pouco daquela energia das ondas! naquele dia, não entrei para surfar! o mar não estava para o surf! o mar estava para devolver parte da energia que um ciclone havia transferido para ele, a milhares de quilômetros dali! e naquele dia, eu havia aceitado o convite! por ali fiquei alguns minutos.... dessa vez sem pensar em muita coisa! apenas por ali – de braços abertos, em harmonia com o oceano, absorvendo a energia das ondas! até que percebi que as luzes do continente já estavam brilhando forte, e ainda tinha que procurar por um “rabo” de onda para sair...

tem um ditado que diz algo mais ou menos assim: “você é parte de onde você está!”**

que assim seja! por que em sendo verdade, naquela tarde de junho, eu fui o mar!

*sim! porque ao menos para mim, ali sempre vai ser o santa mônica!

** “where you are is part of who you are!”

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