terça-feira, 4 de março de 2008

PL alive!

Conforme havia previsto – 2008 está sendo alucinante – muitos dias na praia!!
Melhor ainda – praia de verdade! Praia sem o crowd – limpa e deserta!
Dois dias atrás – conforme a previsão – o mar começou a subir! Acordei cedinho na terça-feira – mas as coisas ainda não estavam muito atraentes! Mar um pouco mexido, porém razoavelmente maior que o dia anterior. O tempo estava bem esquisito, ameaçando chuva. Voltei pra casa animadaço para o café-da-manhã apostando que o final de tarde seria bacana!
Fiquei matando um tempo em casa e nos intervalos das pancadas de chuva corria checar o mar! Estava bastante ansioso, pois o “forecast” era de uma semana movimentada em razão de um ciclone que atuava próximo a costa do estado. O excesso de umidade deixava as coisas mais bacanas devido as pancadas de chuvas intermitentes. Surfar em dias de chuva é muito legal, além de “alisar” o mar, refresca e energiza geral! Sem piadas, pois em dias de chuva com raio, tomar um na cabeça seria como uma “overdose” de energia e acabaria estragando a prancha e o surf – isso sendo extremamente otimista!
Pouco antes do almoço o vento deu uma acalmada e veio a surpresa! Séries de um metro entravam limpas na vala em frente ao sombrero! A maré estava subindo, não havia ninguém na água e até um solzinho ameaçava sair no intervalo das chuvas! O velho e raro pico estava “alive”! Voltei pra casa na correria, mandei um protetor na lata e corri para água! Quando cheguei ao “outside” avistei uma cabeça alguns metros a minha direita – o local havia entrado um pouco antes e estava com o sorriso na orelha! Começamos a surfar sem parar e as séries entravam cada vez maiores! O céu começava a escurecer a nordeste - lá para os lados de Ipanema - anunciando para breve mais uma torneirada! Depois de meia-hora de surf e num daqueles intervalos para respirar, comentei com o local que aquele era nosso dia de sorte, pois Netuno havia reservado altas ondas para nós em um mar muito fácil de surfar! De repente o dia virou noite! Escureceu geral e o vento começo a bater forte de nordeste. Ainda aproveitamos mais uns minutos de boas ondas antes de o vento estragar a nossa brincadeira. O céu ficou realmente sinistro! Percebi que o local ficou cabreiro com a chuva – e eu também! A escuridão assustava e a cortina de chuva quase deitada no horizonte era o anúncio de uma “storm” irada! Confesso que fiquei mais preocupado! Incrível como o mar adquire um aspecto sinistro nesses momentos! Tudo muda em questão de segundos!
Respeitar o mar e reconhecer nossa inferioridade perante a força da natureza é fundamental para que situações como essa não acabe bem. É preciso saber a hora de sair fora – a hora de parar!
Remei mais para o “outside” a fim de entender “qual era” da chuva. O maior receio era haver alguma nuvem pesada embutida naquela confusão toda que se armava sobre nossas cabeças. Isso tudo antes que os raios começassem a fuzilar os únicos otários que estavam no mar! Desde cedo não havia ouvido nenhuma trovoada e o pouco que conheço de meteorologia me fizeram acreditar que estava por vir apenas mais uma “torneirada” do céu – resultado do excesso de umidade associado ao ciclone que trazia as ondas! Pouco tempo depois o vento começou a apertar e já era possível ouvir o barulho dos enormes pingos rasgando a superfície do mar a poucos metros de distância! A boa notícia era que a Ilha do Mel começava a ressurgir por de trás da cortina de água – o que indicava que o “pesado da chuva” estava avançando em direção ao continente. Até então nenhuma trovoada! Quando a chuva chegou foi de arder as costas! O pingos criavam coroas enormes em toda a minha volta – enquanto remava mais para a esquerda para me recolocar na vala – procurei pelo local. A visibilidade foi ficando cada vez mais embaçada – mal dava para enxergar as casas na linha da praia. Alguma coisa parecida com gritos de euforia misturada com o barulho da chuva me fez concluir que o local ainda estava por perto. Depois de uns minutos de massagem de pingos forçada nas costas e já mais um pouco para o “outside” pulei fora da prancha e fui pra dentro da água a fim de me proteger dos “fucking rain drops”! Botei a prancha na cabeça e aí o barulho foi ensurdecedor – pareciam que estavam metralhando minha pobre prancha! Logo em seguida avistei o local – ele voltava alucinado do inside gritando: - “já vai parar! Já vai parar!” Acabou que não fiquei mais do que dois minutos sob o escudo da prancha quando, como se alguém houvesse apertado a tecla “stop” do controle remoto, tudo se acabou! Não tinha mais barulho, não tinha mais vento e não haviam mais pingos “afiados” despencando do céu! Maravilha! Voltei a remar para perto do local - que continuava alucinado! Ao perceber que a escuridão havia rumado no sentido da serra do mar, já com a Ilha do Mel e a Ilha dos Currais a leste visíveis – adiantei para o brother: - “agora é hora de remar antes de começar a arder no sol”! Saímos os dois em remada! Por lá fiquei ainda mais de uma hora! O céu lembrava um enorme salão de danças, onde as nuvens de chuva de deliciavam em uma valsa em parceria com o sol! As séries continuavam a subir – porém trazendo ondas cada vez mais gordas em razão da maré que também subia! Brinquei até não aguentar mais! Saí fora quebrado! Meus braços estavam no bagaço… e a fome estava ficando tensa!!! O local ainda ficou por lá, rindo sozinho! Acabei remando muito – como há muito não remava! A última vez, para ser preciso, foram nos saudosos dias de Indonésia. As sessions em Nias realmente eram para escaldar! Obviamente que o mar estava longe, muito longe de ser o de Nias, mas aproveitei Praia de Leste assim com um piá com muita sede de doce o faria se lhe dispusessem um pote de Nutella! O preparo físico também já não é o mesmo da época de Nias e a tal “flat belly” já desapareceu! Mas não tô nem aí! Tenho noção que meu tempo de moleque se distância a cada dia…mas nem por isso vou deixar de aproveitar dias como esse!
Terça-feiras como essa por aqui no quintal de casa são raras e eu as valorizo! Além do mais, uma boa session de surf renova a alma e acalma a mente!
A sensação de brincar nas ondas e deslizar sobre o mar por mais breve que seja é muito intensa! Em média, são poucos segundos de surf de uma onda, menores ainda quando limitados pela minha sofrível habilidade. Esses segundos, se acumulados ao longo de minha vida provavelmente não passem de algumas horas, mas momentos assim são inesquecíveis! A essência da onda fascina e o desafio não está apenas em brincar com a onda, deslizar na onda mas sim em compartilhar aquela energia que a natureza disponibiliza! Impossível não absorver um pouco disso tudo – nem que seja embolado no meio do espumeiro – rodando com a onda depois de um wipe-out! Oportunidades assim não podem ser jogadas fora!
Ao final das contas – a minha eterna busca por “terça-feiras” nunca vai acabar! São dias como esses que ainda me fazem a acreditar que é possível curtir muito a vida em dias que o mundo vai ficando cada vez mais insuportável!

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